sexta-feira, 23 de maio de 2014

O ambiente do projeto - Premissas, Restrições e Riscos

5       O AMBIENTE DO PROJETO

5.1           Premissas


São hipóteses que, para o projeto, são assumidas como verdadeiras. Para o PMBOK® (2008), “Premissas são fatores que, para fins de planejamento, são considerados verdadeiros, reais ou certos sem prova ou demonstração.” As premissas devem ser específicas, precisas e claras para contribuir com os propósitos do planejamento do projeto, pois, para a execução e o controle, são consideradas reais e seguras.
As premissas, não podendo ser verificadas ou provadas, oferecem certo grau de risco ao projeto. Assim, influenciam todos os aspectos do planejamento e execução do projeto, demandando constantes revisões e atualizações. De um modo geral, toda premissa é fonte primária de um risco, sendo obrigatória a inscrição, de pelo menos um risco, para cada premissa identificada.
Seguem alguns exemplos de premissas:
·         Apoio formal da Alta Administração à iniciativa do projeto;
·         Disponibilização da equipe;
·         Capacitação da equipe;
·         Liberação dos recursos financeiros nos prazos previstos;
·         Dotação orçamentária autorizada para o projeto; e
·         Aquisição de licenças de software.
No caso da premissa exemplificada acima: “Liberação dos recursos financeiros nos prazos previstos”, a inscrição do risco na documentação do projeto se dá pela negação da premissa, considerando-se e inscrevendo o seguinte risco: Não liberação dos recursos financeiros nos prazos previstos. A partir disso, são elaboradas as análises das consequências do risco e as contramedidas pertinentes.

5.2           Restrições


Restrições são fatores e limitações que afetam diretamente o desempenho do projeto e a maneira como uma atividade será executada. Para o PMBOK® (2008), Restrição pode ser definida como o estado, a qualidade ou o sentido de estar restrito a uma determinada ação ou inatividade. Em gerenciamento de projetos, restrição é uma limitação, interna ou externa, aplicável a um projeto, e que afeta o seu desempenho ou os resultados do mesmo. Uma restrição também pode afetar um processo ou grupo de processos componente de um projeto.
Gerenciar projetos é gerenciar escassez de recursos. Esta escassez forma o primeiro nível de restrições naturais de um projeto.
Inicialmente – até a 3ª Edição do PMBOK®(2004)   tratavam-se as restrições de um projeto como baseadas em um conceito de tríplice restrição, onde qualquer alteração em tempo, custo e escopo afetava sobremaneira o equilíbrio de um projeto.
Atualmente, considera-se restrição qualquer alteração nas variáveis de um projeto (escopo, tempo, custo, riscos, qualidade e recursos humanos) pode desequilibrar o andamento de um projeto. Alguns autores incluem a satisfação do cliente como uma restrição[1].

Como exemplo de restrições, podemos citar:
·         Cultura organizacional;
·         Indisponibilidade de recursos adicionais;
·         Tecnologia disponível para o projeto;
·         Condições geo-climáticas;
·         Infra-estrutura interna e externa disponível para o projeto;
·         Leis, normas e contratos em vigor e;
·         Prazo inadiável de conclusão do projeto.

Restrições também podem ser consideradas como os limites permanentes e imutáveis que circunscrevem o raio de ação de um projeto ou a atuação de sua equipe em dado momento ou período e com um dado número de informações conhecidas. No entanto, é possível que uma restrição possa ser alterada por fatores externos ou internos ao projeto, mesmo durante as fases de planejamento ou execução das atividades.

Em um exemplo, ao se elaborar um projeto para a coordenação e execução das atividades de marketing para a realização de um grande evento esportivo (Copa do Mundo 2014 ou Olimpíadas 2016), uma restrição do projeto (permanente e imutável) passa a ser, a data de realização (início) do evento esportivo.
Uma restrição também pode ser fonte primária de um ou mais riscos em um projeto ou ainda ser utilizada como limitador da incerteza gerada pelas premissas.

5.3           Diferença entre premissas e restrições


Premissas são fatores que consideramos como verdade e para os quais não temos condições de assegurar (provar) a ocorrência ou realização dentro do projeto.  Toda premissa gera um risco, pois a sua natureza possui contornos de uma aposta, com certa probabilidade de acontecer ou não. Para cada probabilidade teremos consequencias que podem ser benéficas ou maléficas para os objetivos e resultados do projeto. Para reduzir o grau de incerteza de uma premissa, associamo-la a um risco, e cada risco necessita ser tratado (contramedida) adequadamente. Em geral, as premissas não estão sob nosso controle, o que nos leva a tratá-las como riscos inscritos e com contramedidas estabelecidas.
Restrições são obstáculos que limitam as opções, o raio de ação de um do projeto, estando em geral sob nosso controle e em relação às quais tomamos a decisão de assumi-las ou não. Assumir uma restrição pode ser uma decisão tomada de forma deliberada para responder a um risco, por sua vez originado ou não de uma premissa. Nós não temos controle sobre as premissas, mas podemos utilizar as restrições (as quais podemos controlar) para responder aos riscos e à incerteza do meu projeto. Assim sendo, podemos também estabelecer e impor restrições para reduzir a margem de ocorrência (probabilidade) das premissas. As restrições limitam o raio de ação do projeto, mas também reduzem o ambiente de incerteza provocado pelas premissas e riscos.

5.4           RISCOS


Riscos podem ser definidos como sendo eventos futuros e incertos que poderão ocorrer sob a forma de ameaças ou de oportunidades em um projeto (PMBOK, 2008). Caso se concretizem, os riscos poderão influenciar negativamente ou positivamente o alcance dos objetivos do projeto. Assim, cabe ao gerente do projeto identificar e monitorar, de forma contínua, as ameaças e as oportunidades que podem impactar o projeto a fim de criar estratégias que garantam a eficiência no alcance dos objetivos do projeto.
Segundo o PMBOK® (2008), “ O gerenciamento dos riscos do projeto inclui todos os processos que tratam da realização de identificação, análise, respostas, monitoramento e controle, e planejamento do gerenciamento dos riscos em um projeto.” O objetivo da gestão de riscos é aumentar a probabilidade e o impacto dos eventos positivos e diminuir a probabilidade e o impacto dos eventos negativos que respectivamente, potencializarão ou diminuirão o resultado de um projeto.

Gerenciar riscos abrange, mas não se limita, os seguintes processos:

·         Identificar os riscos (positivos ou negativos) e documentar suas características;
·         Analisar e priorizar a importância dos riscos do projeto, levando em conta o impacto e probabilidade dos mesmos nos resultados do projeto;
·         Planejar as respostas aos riscos (contramedidas) que reduzirão seus efeitos (riscos negativos) ou potencializarão seus efeitos (riscos positivos);
·         Monitorar continuamente os riscos, acompanhando sua evolução, a efetividade das contramedidas e o surgimento de novos riscos.

Um risco pode ter uma ou mais causas (premissas, restrições, requisitos do projeto ou condições sistêmicas que propiciem o seu surgimento). Da mesma forma, um risco pode ser tratado (aplicação de contramedida) de uma ou várias maneiras.
Para o PMBOK® (2008), “ As condições de risco podem incluir aspectos do ambiente da organização ou do projeto que podem contribuir para o risco do projeto, como práticas imaturas de gerenciamento de projetos, falta de sistemas integrados de gerenciamento, vários projetos simultâneos ou dependência de participantes externos que não podem ser controlados.”
A tolerância a riscos é o grau de aceitação que as organizações, partes interessadas ou membros da equipe tem aos riscos identificados no projeto. Este grau de tolerância varia para cada participante do projeto, onde o que pode ser “ameaçador” para alguém pode ser “ameno” para outro.
A identificação dos riscos de um projeto é o processo onde são utilizados vários métodos ou técnicas para prospectar e reunir os possíveis riscos de um projeto. Entre estes métodos e técnicas, temos: reuniões de avaliação, brainstorming, técnica Delphi, entrevistas com partes interessadas ou especialistas, análise de causa-raiz, diagramas de causa e efeito, diagramas de sistema ou fluxogramas, diagramas de influência e análise SWOT.
Após a fase de identificação, os riscos passam pelo processo de priorização de seus aspectos qualitativo e quantitativo em relação ao impacto e probabilidade, resultando em uma análise qualitativa. A análise qualitativa leva em conta a discussão subjetiva do impacto e probabilidades dos riscos identificados. Para tanto, podemos utilizar vários tipos de matrizes de probabilidade e impacto. 
Como exemplo, vejamos a matriz de priorização de riscos abaixo:


Figura 5- Riscos - Exemplo de matriz de impacto e probabilidade.

Com base na análise qualitativa, é realizada a análise quantitativa dos riscos, onde são atribuídos classificações numéricas (quantificação dos efeitos dos riscos) que expressam o efeito quantitativo dos riscos (em termos de custo, tempo, qualidade) nos objetivos do projeto. Para esta análise quantitativa podem ser utilizadas técnicas como análise de sensibilidade, análise do valor monetário esperado (VME - em Inglês EMV) ou árvore de decisão, modelagem e simulação de cenários (técnica de Monte Carlo ou similares) e simulação de riscos de custos.
Após a fase de priorização, é iniciada a fase de planejamento das respostas aos riscos (contramedidas), onde são desenvolvidas opções e ações para aumentar as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto. Estas contramedidas precisam envolver um custo adequado ao impacto do risco no projeto, serem realistas (aplicáveis), acordadas previamente entre as partes interessadas e contarem com um responsável sua efetivação.
As contramedidas terão por objetivo tratar os riscos, podendo ocorrer as seguintes situações de tratamento de riscos:
Tabela 2- Tipos de tratamento aos riscos. Adaptado de PMBOK® (2008).
Tipo de risco
Contramedida
Ameaça
Eliminar risco (neutralizar)
Transferir risco
Mitigar risco (reduzir efeitos)
Aceitar risco
Oportunidade
Explorar risco (potencializar ocorrência)
Compartilhar risco
Melhorar risco (potencializar efeitos)
Aceitar risco

No caso de um risco ameaça, podem ser tomadas contramedidas que eliminem o risco, transfiram o risco para um terceiro, mitiguem (reduzam) os efeitos de um risco ou aceitem o risco de forma ativa ou passiva (estabelecimento de contingências).
No caso de riscos positivos ou oportunidades, podem ser tomadas contramedidas que explorem a oportunidade garantindo o seu acontecimento efetivo, contramedidas que compartilhem o risco com um terceiro que tenha mais capacidade de “fazer acontecer” e transformar aquela oportunidade em benefício ao nosso projeto, contramedidas que melhorem (maximizem) a probabilidade ou o impacto daquelas oportunidades e contramedidas que possibilitem a aceitação da boa oportunidade.
No processo de monitoramento e controle dos riscos são utilizadas informações de desempenho do projeto para traçar estratégias de respostas aos riscos, que podem envolver execução de planos alternativos ou de contingência, adoção de ações corretivas e a própria modificação do plano de gerenciamento do projeto. Esta fase de monitoramento e controle dos riscos é contínua e iterativa, sendo executada desde a iniciação do projeto.
Durante o  monitoramento e controle dos riscos são verificadas continuamente as seguintes condições:
·         Se as premissas do projeto ainda são válidas;
·         Se os riscos identificados persistem, ou se surgiram novos riscos;
·         Se o gerenciamento planejado para os riscos está sendo seguido e;
·         Se as reservas de contingência devem ser modificadas ou não.
É inclusive nesta fase de monitoramento e controle que podem ser elaboradas solicitações de mudança para efetivação dos planos de contingência ou soluções de contorno originadas das contramedidas construídas para tratar os efeitos dos riscos identificados.

Exemplo de identificação, priorização, estabelecimento de contramedida e monitoramento de risco:












[1] MULCAHY, R. Preparatório para o exame de PMP. 7ª ed. Estados Unidos: RMC Publicatios, Inc. 2011. 540p.


REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos. Manual de Elaboração: plano plurianual 2008-2011/ Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos. Brasília: MP, 2007.
PMI. Project Management Institute. Project Management Body of Knowledge - PMBOK, 4. ed., 2008.
ABPMP.  Association of Business Process Management Professionals. Guia para Gerenciamento de Processos de Negócio Corpo Comum de Conhecimento - BPM CBOK, v. 2.0, 2009.

Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. Metodologia de Gerenciamento de Projetos do SISP / Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. - Brasília: MP, 2011.

BPM CBOK - ASSOCIATION OF BUSINESS PROCESS MANAGEMENT PROFESSIONALS (ABPMP). Guia para Gerenciamento de Processos de Negócio - Corpo Comum de Conhecimento - Versão 2.0, 2009.

PRADO, Darci Santos do. Planejamento e Controle de Projetos. Série Gerência de Projetos. Nova Lima (MG), INDG, 2004.

Material preliminar do PMBOK® 5ª Edição - 2013 colhidos no website da Revista Mundo Project e no website do consultor Ricardo Vargas;

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