segunda-feira, 15 de setembro de 2014

As partes interessadas (stakeholders) e a equipe do projeto

9       As partes interessadas e a equipe do projeto

9.1           Partes Interessadas


Consideramos partes interessadas todos os participantes diretos e indiretos no projeto, internos ou externos, pessoas físicas ou jurídicas, que podem afetar ou ser afetados pelos resultados do projeto, de forma “positiva” ou “negativa”. Também são conhecidas como Stakeholders.
Cada projeto tem sua realidade e, da mesma forma, as partes interessadas e seu grau de influência (autoridade e responsabilidade) variam de acordo com a complexidade do contexto que envolve o projeto. Neste sentido, segundo o PMBOK® (2008), além de possuírem diversos níveis de responsabilidade e autoridade quando participam de um projeto, os níveis de influência das partes interessadas podem variar de acordo com o ciclo de vida do projeto.
A equipe de gerenciamento do projeto deve identificar as partes interessadas, determinar suas necessidades e então gerenciar e influenciar tais necessidades, a fim de assegurar um projeto bem sucedido. Além disso, a identificação das partes interessadas deve ser um processo contínuo. Planejar, gerenciar e controlar o engajamento (ou não interferência) das mesmas nos objetivos estabelecidos no escopo do projeto, desde a fase de iniciação, é essencial para o sucesso do projeto.
A falta de identificação de uma parte interessada pode estender o cronograma, paralisar entregas e atividades, aumentar a linha de base de custos ou forçar o cancelamento do projeto.
Ressalta-se, que as partes interessadas podem ser favoráveis ou contrárias ao alcance dos objetivos do projeto. Assim, em um projeto voltado à construção de uma nova sede para uma Superintendência pode-se visualizar, como partes interessadas favoráveis, os integrantes da própria Instituição que se beneficiará com a efetivação da iniciativa.
Porém, destaca-se, ainda, que caso o terreno a ser ocupado esteja sendo pleiteado por outro órgão público, por grandes corporações ou por moradores irregulares remanescentes, estas partes interessadas representadas devem ser consideradas a fim de que as motivações contrárias ao projeto não comprometam o alcance dos objetivos previstos.
As principais partes interessadas do projeto compreendem o demandante, o patrocinador, o gerente do projeto e o EP – Escritório de Projetos. Além destes, em graus diversos, também participam do projeto a equipe do projeto, os beneficiários (todos aqueles que usufruem dos produtos ou serviços do projeto), os fornecedores, os clientes/usuários e demais influenciadores.


Figura 17 - A relação entre partes interessadas e o projeto. PMBOK® (2008, p.24)

Os influenciadores são pessoas ou grupos que não estão diretamente relacionados ao projeto, mas devido à sua posição na organização executora, no fornecedor, no órgão regulamentador – por exemplo: fornecedores, imprensa, ONG´s, TCU, CGU, Legislativos, Minstério Público, Judiciário – ou ainda em outra organização (sociedade organizada), podem influenciar, positiva ou negativamente, no andamento do projeto. Ao serem incluídos e tratados como partes interessadas no projeto, os influenciadores podem ter suas influências negativas diminuídas ou anuladas e suas influências positivas podem alavancar os resultados do projeto.
Exemplo de identificação e priorização de partes interessadas:

Figura 18- Exemplo de identificação e caracterização de partes interessadas.

9.2           Gerente do Projeto


Segundo o PMBOK® (2008), o Gerente de Projeto é a pessoa designada pela organização executora para atingir os objetivos do projeto. O papel de um gerente de projetos é diferente do papel de um gerente funcional ou de um gerente de operações, como veremos logo adiante.
Dependendo da estrutura organizacional em que atua (funcional, matricial ou projetizada), o gerente de projeto pode se reportar a um gerente funcional, a um gerente de portfólio ou de programas. Em alguns casos, o gerente de projeto poderá ser o responsável pelos projetos no âmbito da organização e reportar-se diretamente à alta administração.
Além de compreender e aplicar os conhecimentos, as ferramentas e técnicas relacionadas ao gerenciamento de projetos (muitas específicas desta área), o profissional em gestão de projetos necessita ter as seguintes características:
·         Conhecimento: Refere-se aos conhecimentos do gerente de projetos sobre gerenciamento de projetos.
·         Desempenho: Refere-se ao que o gerente de projetos é capaz de realizar na aplicação de seu conhecimento em gerenciamento de projetos.
·         Pessoal: Refere-se ao comportamento do gerente de projetos na condução do projeto. A efetividade da característica pessoal abrange atitudes, capacidade de liderança, capacidade de orientar e equipe do projeto e resolver conflitos e contingências.
Estas características possuem relação com os modernos conceitos de gestão de pessoas, onde a gestão por competências se situa, com base em três eixos: conhecimentos (C), habilidades (H) e atitudes (A). A definição de competência está baseada no “CHA”, que são os conhecimentos (C) e as habilidades (H), competências técnicas, e as atitudes (A), competências comportamentais, que uma pessoa possui. O conhecimento tem relação com a formação acadêmica, o conhecimento teórico. A habilidade está ligada ao prático, a vivência e ao domínio do conhecimento. Já a atitude representa as emoções, os valores e sentimentos das pessoas, isto é, o comportamento humano.
O gerente de projeto precisa ser capaz de entender os detalhes do projeto, mas gerenciá-lo com uma perspectiva global. Deste modo, o gerente de projeto é encarregado, mas não limitado, de:
·         Desenvolvimento do plano de gerenciamento do projeto e todos os planos componentes relacionados;
·         Manter o projeto na direção correta em relação ao cronograma e orçamento;
·         Identificação, monitoramento e respostas aos riscos e;
·         Fornecimento de relatórios periódicos precisos e oportunos das métricas do projeto.
A atuação do gerente de projeto difere da atuação do gerente funcional e do gerente de operações.
Segundo o PMBOK® (2008), o gerente funcional desempenha uma função gerencial dentro de uma área administrativa ou funcional do negócio, como recursos humanos, finanças, contabilidade ou aquisições. Ele conta com pessoal próprio permanente para trabalhos contínuos e tem uma diretiva clara para gerenciar todas as tarefas dentro de sua área de responsabilidade funcional.
Ainda segundo o PMBOK® (2008), o gerente de operações tem uma função gerencial em uma área de negócio principal, como pesquisa, desenvolvimento, design, fabricação, aprovisionamento, teste ou manutenção. Diferentemente dos gerentes funcionais, estes gerentes lidam diretamente com a produção e manutenção dos produtos ou serviços fornecidos pela organização.
Ao término de um projeto, que pode ter como fim o diagnóstico ou melhoria de um processo, que por sua vez pode gerar um produto ou serviço, tanto o gerente funcional como o gerente de operações, podem incorporar às suas tarefas e/ou operações o resultado do projeto. 
Deste modo, a atuação do gerente de projeto é transversal à estrutura da organização, podendo se valer de uma matriz de comunicações, rede de relacionamentos (networking), autoridade e prioridade diversa daquela usualmente utilizada na instituição, a fim de atingir os objetivos do projeto.
Dentre as principais responsabilidades de um gerente de projeto temos, mas não se limitando a:
·         Gerenciar o projeto, promovendo o alinhamento dos objetivos, metas e prazos, de forma a atender às expectativas da unidade demandante e do patrocinador.
·         Manter a equipe do projeto e as partes interessadas informadas sobre o andamento do projeto.
As melhores práticas recomendadas pelo PMI e a experiência do dia a dia de vários profissionais de projetos, orientam como tarefas preponderantes do gerente de projeto: coordenar e dirigir as atividades de todos os membros da equipe do projeto, informar e comunicar a equipe do projeto e coletar e consolidar as lições aprendidas durante e no término do projeto.
Na coleta das lições aprendidas em um projeto, o gerente deve ser capaz de identificar situações que foram positivas ou negativas na execução do projeto, contextualizá-las e registrar recomendações para que não ocorram mais, se negativas, ou para que sempre ocorram, se positivas.


9.3           Gerente Adjunto do Projeto


Segundo o Dicionário Aurélio, a palavra “adjunto” significa: Pessoa associada a outra para auxiliá-la em suas funções. Da mesma forma, pode significar: contíguo, junto, perto, próximo, unido, ajudante, auxiliar ou funcionário auxiliar ou substituto.
Gerente Adjunto é o co-responsável, juntamente com o Gerente do Projeto, pela administração e resultados do projeto, sendo sua atuação em conjunto com aquele, e no caso de sua ausência, assumindo suas responsabilidades. Compartilha com o gerente do projeto a tomada de decisões, possuindo as mesmas funções, mas com nível de atuação pré-determinado e abrangência delimitada em pleno acordo com o gerente do projeto, com o patrocinador e com o demandante.
Em projetos de tamanho considerável, o gerente adjunto pode ser encarregado de gerenciar certas etapas do cronograma, equilibrando os esforços com o gerente do projeto. Em outros projetos, o gerente adjunto pode ser responsável pelo gerenciamento de determinada área de conhecimento ou processo.

9.4           Aspectos comportamentais relacionados ao Gerenciamento de Projetos


A aplicação do conjunto de boas práticas, junto às técnicas e ferramentas disponibilizadas pelo avanço da tecnologia são fatores que têm grande importância para o alcance da eficiência no gerenciamento de projetos. Porém, cabe destacar que, como os projetos são gerenciados por pessoas, o desenvolvimento do perfil gerencial dos atores envolvidos na coordenação desses projetos é decisivo para a garantia da eficiência no alcance dos objetivos, pois, os aspectos comportamentais potencializam os resultados a serem alcançados com os conhecimentos e meios disponíveis.
Assim, destacam-se oito aspectos comportamentais relacionados à atitude pessoal do gerente de projeto, em consonância com o Referencial Brasileiro de Competências em Gerenciamento de Projetos (2004)[1] [2], os quais seguem listados:
                               I.            Capacidade de Comunicação:
                            II.            Iniciativa, engajamento, entusiasmo, capacidade de motivação;
                         III.            Capacidade de fazer contatos, mente aberta;
                         IV.            Sensibilidade, autocontrole, habilidade em reconhecer valores, prontidão para assumir responsabilidades, integridade pessoal;
                            V.            Resolução de conflitos;
                         VI.            Habilidade em encontrar soluções, pensamento holístico;
                      VII.            Lealdade, solidariedade, prontidão em ajudar; e
                   VIII.            Capacidade de Liderança.

9.5           Demandante


Demandante é quem propõe o desenvolvimento de esforço voltado ao produto, serviço ou resultado do projeto, podendo ser considerado interno ou externo à organização executora. O demandante geralmente, mas não obrigatoriamente, é o responsável (gerente funcional ou gerente de operações) por uma unidade organizacional/área da organização. Quando o demandante for externo à organização, poderá ser referido na documentação do projeto pelo nome do Órgão demandante.
O demandante, quando interno, pode assumir o papel de patrocinador ou gerente do projeto, não sendo recomendável o acúmulo destes papéis em um mesmo projeto.
A demanda de um projeto pode surgir de um novo marco legal, política de governo, fato superveniente, avanço tecnológico, oportunidade de melhoria de um processo, parceria público/público ou público/privada e outros.

9.6           Patrocinador


Responsável pelos recursos e/ou apoio político do projeto, o patrocinador é o ator que tem o compromisso de envolver todas as partes interessadas para o sucesso e alcance dos objetivos do projeto, garantindo o comprometimento e a motivação da equipe e das demais partes interessadas. O patrocinador também é referenciado pela palavra em Inglês Sponsor”.
As principais atribuições do patrocinador são:
·         Acompanhar e atestar, por intermédio de reuniões, questões relativas ao andamento do projeto e;
·         Apoiar a mitigação de riscos mais críticos do projeto;
·         Aprovar os documentos obrigatórios do projeto e outros, de acordo com a matriz de responsabilidades do projeto;
·         Aprovar os recursos necessários para melhorar a produtividade;
·         Aproveitar interações existentes com os colaboradores para comunicar a importância do projeto para a instituição e a necessidade da colaboração de todos e;
·         Atuar como último nível na escala de solução de conflitos;
·         Demandar junto às unidades envolvidas as atividades necessárias para a execução do projeto, de acordo com o previsto no plano de gerenciamento do projeto;
·         Exercer poder de decisão para responder sobre questões inerentes ao projeto.
·         Exercer poder de veto nas decisões entre gerentes do projeto e usuários chaves;
·         Indicar o Gerente do Projeto;
·         Negociar a cessão de recursos humanos para compor a equipe do projeto;
·         Negociar a liberação de recursos financeiros para o projeto;
·         Participar, com o gerente do projeto, partes interessadas e escritório de projetos, de reunião de análise de mudanças do projeto.
·         Promover a priorização do projeto na agenda organizacional e apoiar a articulação do esforço necessário das áreas durante o andamento dos trabalhos;
·         Unir o demandante e o gerente de projeto com a administração superior.
Tendo em vista que o projeto envolve muito esforço de gestão, planejamento e engajamento de áreas, recursos e pessoal, a figura do patrocinador é fundamental.
O patrocinador geralmente é representado por alguém da alta administração, que tenha grande poder de articulação e de influência nos vários níveis da organização.
Um bom patrocinador acrescenta valor ao projeto e desempenha diferentes funções durante o ciclo de vida do projeto: conselheiro, motivador, eliminador de barreiras e definidor de limites.
Assim como as organizações necessitam de uma pessoa responsável pelo cumprimento dos seus objetivos, o projeto também tem a mesma necessidade. O patrocinador do projeto é a pessoa responsável por apoiar o gerente do projeto na sua condução e garantir que o planejamento seja efetivado. Este papel é desempenhado pelo patrocinador objetivando estabelecer as interfaces entre o gerente do projeto e as partes interessadas.

9.7           Equipe do Projeto


O sucesso ou o fracasso de um projeto depende diretamente do gerenciamento dos recursos humanos envolvidos na execução e na entrega do escopo previsto para o projeto.
Deve-se fazer uma clara distinção entre grupo de pessoas e equipe. Grupo de pessoas não tem o propósito de cooperar entre si. O conceito de equipe, por si só, contém a idéia de reunião de pessoas com uma finalidade determinada, devendo haver comprometimento de todos com os objetivos do conjunto. 
Equipe do Projeto pode ser definida como sendo as pessoas encarregadas da realização do projeto, da qual faz parte o patrocinador, o gerente do projeto e todos aqueles responsáveis pela execução ou apoio à entrega dos produtos ou serviços gerados pelo projeto.
Uma equipe de projeto tende a ser multidisciplinar e tem vida limitada à duração do projeto. É bem distinta de uma equipe funcional, que é permanente.
Os critérios de escolha da equipe do projeto devem ser centrados na capacidade das pessoas de criarem valor agregado ao projeto. A escolha deve recair sobre integrantes que façam contribuições úteis, reunindo conhecimentos, habilidades e atitudes. A multidisciplinariedade dos membros da equipe contribui para o sucesso do projeto. O conhecimento técnico é necessário e pode ser adquirido por meio de treinamento, já as habilidades de cooperação e trabalho em equipe e a atitude proativa na resolução de problemas são mais difíceis de desenvolver, portanto, devem ser especialmente consideradas.
Os membros da equipe do projeto podem ter dedicação integral, parcial ou por atividade específica. O membro da equipe, alocado com dedicação parcial durante o período do projeto, terá atribuições relativas às atividades de rotina e ao projeto. Quando o projeto necessitar de um especialista em apenas determinada fase, é indicada a participação por atividade.
A equipe ideal de projeto geralmente não existe ou não está disponível. Para contornar esse problema, deve-se inicialmente, tentar montar a melhor equipe possível e planejar a capacitação necessária para as áreas não atendidas pelo perfil dos membros da equipe. A capacitação pode ser feita antes do início do projeto ou durante a sua evolução. A necessidade de capacitação pode ser considerada na análise dos fatores de risco do projeto e o seu custo deve ser registrado.
Destaca-se que cada membro da equipe do projeto é responsável, não só pela sua atuação dentro do projeto, mas também pelo projeto como um todo. Ou todos vencem ou todos perdem. Por essa razão é que, novamente, fica clara a importância da montagem da equipe, pois todos devem agir como um time.
A avaliação de desempenho da equipe do projeto é uma atividade essencial que resulta em motivação e oportunidades de crescimento dos membros da equipe. Da avaliação de desempenho são obtidas a identificação de necessidades de qualificação e a determinação de potencial da equipe. O processo de avaliação pressupõe que o desempenho da equipe do projeto depende do desempenho de cada membro, daí a necessidade de se acompanhar o desempenho para o sucesso do projeto.




[1] O Referencial Brasileiro de Competências em Gerenciamento de Projetos é uma publicação da Associação Brasileira de Gerenciamento de Projetos (IPMA Brasil), capítulo brasileiro da International Project Management Association – IPMA.
[2] IPMA Brasil. Para saber mais acesse: http://www.ipmabrasil.com/

Um comentário:

  1. Muito bom o artigo, ajudou bastante e a compreensão esta bem simples e objetiva!

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